12 de Setembro –  21 de Novembro 2019

Curadoria Curatorship Galeria Primner Gallery

 

É sempre imprevisível os caminhos por que nasce uma exposição. As primeiras conversas, as visitas ao atelier, a aproximação da curadoria ao trabalho da artista. É assim que vamos construindo um diálogo e como nascem as primeiras ideias.

Conheci a Cláudia Lima pela primeira vez em 2018. A Galeria Primner tinha inaugurado há pouco tempo. Tínhamos em mãos um projeto ousado – a representação de artistas brasileiros concretos e neoconcretos em toda a Europa. Tínhamos uma lista de nomes e os contactos dos artistas que íamos representar, quando a Cláudia vem ao nosso encontro.

 

Não apenas se tratava de uma artista que trabalhava na nossa linha curatorial, mas de alguém que tinha aprendido em primeira mão com um dos pais do movimento neoconcreto – o artista Ivan Serpa.

Cláudia frequentou o Núcleo Experimental de Educação de Arte, projecto do artista Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro. Com apenas 11 anos, Cláudia Lima iniciava a sua vontade artística levada pela mão de um dos artistas responsáveis pelo movimento neoconcreto no Rio de Janeiro.

 

Uma vida preenchida, uma carreira dedicada a assuntos diplomáticos e ao mesmo tempo dedicada à arte e a construir um corpo de trabalho sólido, único e marcante.

Nesta exposição intitulada “Tapeçaria Neoconcreta” apresentamos parte do seu trabalho de tapeçaria, técnica rara que veio a aperfeiçoar em Aubusson, em França, capital europeia da tapeçaria desde o século XV.

 

Apresentamos três tapeçarias da artista, todas elas com uma forte influência neoconcreta. Nelas podemos ver formas orgânicas que partem de formas geométricas. À medida que as observamos, estas formas ganham vida e movem-se dentro da “larga janela” que é a tapeçaria. Entrelaçam-se, enrolam-se e têm cores muito vivas. Estas cores e formas, apesar de terem um passado geométrico convocam o corpo para fazer parte de uma experiência matérica.

Esta experiência é presente noutros trabalhos de Cláudia Lima. Por exemplo nas esculturas. Não há dúvida que o interior do corpo e a sua dinâmica são representados. Embora nesta exposição sejam apenas apresentadas obras bidimensionais, como tapeçarias e os desenhos, é presente esta ideia do movimento de um corpo orgânico e misterioso.

 

Neste trabalho vemos a tradição neoconcreta. As tapeçarias parecem-nos como enigmas: formas dentro de formas, significado dentro de significado que só iremos resolver a partir do momento em que o nosso olhar as convoca.

 

Esta é a terceira exposição que a Galeria Primner inaugura em 2019. Integra um ciclo dedicado à celebração dos 60 anos do nascimento do movimento neoconcreto. Nesta exposição, celebramos uma ligação entre o Brasil e a Suíça partindo da narrativa pessoal da artista. Cláudia Lima não é apenas Brasileira mas também é Suíça. País onde nasceu Max Bill, impulsionador do movimento concreto e responsável pela sua chegada ao Brasil.

Vemos na obra da artista um cruzamento de influências, desde o início destes movimentos até hoje.

 

Esta exposição conta com o apoio da Embaixada da Suíça.

 

Isabel Costa

11 de Setembro 2019