Exposição de 9 de Maio a 20 de Junho de 2019
Curadoria Isabel Costa
Pedro Léger Pereira, Elogio da Sombra
Elogio da Sombraé o título do famoso livro do japonês Junichiro Tanizaki, publicado pela primeira vez em 1933. Nele, Tanizaki critica o excesso de luz do Ocidente e o exibicionismo das formas e cores. Mais tarde, é também o título de uma das obras de poesia de Jorge Luís Borges, em que nos fala da tomada de consciência da sua própria sombra e da sombra da sua obra, onde encontra o seu reflexo. Como diz no poema:
“Vivo entre formas luminosas e vagas que não são ainda a escuridão. (…)
Esta penumbra é lenta e não dói; flui por um manso declive e parece-se com a eternidade.”
Elogio da Sombra é a quarta exposição da Galeria Primner, que primeira vez mostra um jovem português, Pedro Léger Pereira. Na sua obra vemos a influência dos movimentos Concreto e Neoconcreto que tiveram a sua maior expressão no Brasil nas décadas de 50 e 60. As suas formas simples e concretas partem sempre de formas geométricas. Nesta exposição, todas as esculturas partem da manipulação do círculo. Artista plástico e arquiteto de profissão, o artista introduz-nos a uma outra dimensão ao explorar o eco de cada obra através da sombra.
Para Pedro Léger Pereira,, a sombrafunciona como uma peça efémera, que se vai alterando à medida da posição do sol e da entrada da luz no espaço expositivo da galeria. Além da incorporação do escuroneste trabalho, o autor vai mais longe. Ao utilizar inox, estas esculturas são também um espelho. Lembra-nos Borges, já no final da sua vida, ao dizer que na consciência da sua própria sombra encontra o seu reflexo. Ao olharmos as esculturas admiramos a sua sombra, o nosso reflexo e os reflexos de todas as outras obras, assim ganhando consciência da sua totalidade.
As peças apresentadas nesta exposição são um conjunto de sete esculturas únicas, a partir das quais o artista desenvolve estudos/desenhos. Neles o artista desenha a sombra das próprias esculturas, assim transformando a sombra de cada peça numa nova obra.
Esta exposição pode ser vista em várias dimensões: em primeiro lugar no plano tridimensional das esculturas, já que as obras podem ser observadas em múltiplas perspetivas e de todos os lados; em segundo lugar, no plano da sombra de cada escultura; e, em terceiro, os desenhos em volta, que simbolizam a materialização da efemeridade de cada sombra.
Lisboa 04/05/2019
Isabel Costa