Exposição de 22 de Setembro a 15 de Novembro de 2018

Curadoria de António Pedro Mendes

::: Ciclo Diálogos com Amílcar de Castro :::

De Setembro a Dezembro, a Galeria Primner apresenta o Ciclo “Diálogos com Amílcar de Castro”, com o objectivo de trazer para Lisboa artistas que hoje trabalham com a herança do concretismo e do neoconcretismo brasileiro. No primeiro diálogo a galeria apresenta “Rodrigo de Castro, Vibrações da Cor e as suas Subtilezas”.

Rodrigo de Castro, Vibrações da Cor e as Suas Subtilezas 

Muitos artistas foram depurando e, a pouco e pouco, foram-se afastando do mundo real, simplificando e reduzindo a sua linguagem visual. Rodrigo de Castro, pelo contrário. Através das suas subtilezas na forma e na cor, o Artista incita-nos a manter o foco no real por intervenção dos seus matizes e dos seus delicados traços. A folha de papel é, ela mesma e por si só, um campo visual.
Ao contrário de Theo Van Doesburg, que escreveu em 1930 que a sua arte “não tinha outro significado além de si própria” e declarou também que “nada é mais real do que uma linha, uma cor, uma superfície”, Rodrigo vai traçar um percurso onde a forma, a linha e a interpretação das cores se interrelacionam, criando um instrumento que pretende ter a função de alcançar algo mais ao nosso alcance.

Talvez Rothko se aproximasse mais da ideia que o que o Autor desta exposição tem sobre o seu trabalho, quando escreve “os meus quadros são sobre tragédia, êxtase e destino”. Na verdade, os trabalhos apresentados são herdeiros desta afirmação, porque além de estarem num interstício da abstração orgânica e geométrica, são, mais do que tudo, um discurso do sentir do artista que não aceita estar filiado a nenhum “ismo”, mas antes à sua sensibilidade perante a superfície e o material.

A relação entre as cores e a sua interpretação é algo que fascina o artista desde o início da sua carreira, nos idos dos anos 80. O questionamento, ainda que difuso, da abstração pura é construído por Rodrigo de Castro na interceção e interpretação dos efeitos visuais provocados pela arte de misturar tonalidades, pela procura incessante de transcender as aparências superficiais da cor, da forma e da linha, num conjunto harmonioso e equilibrado que se têm reforço nas suas esculturas e no seu modo de tratamento do espaço.

São Paulo é uma cidade de contrastes: das grandes massas de betão e formas de volumes colossais às infinitas orquestras de cores. E São Paulo é também, e sobretudo, uma cidade feita de pessoas e por pessoas; de afetos, de subtilezas, de relações, de emoções e de intensos sentires. É nesta dupla perspetiva da cidade que Rodrigo de Castro se move, procurando mostrar-nos, por intermédio dos seus desenhos onde subtis linhas, traços e apontamentos quase impercetíveis nos evocam a individualidade e simultaneamente nos revelam a harmonia da coexistência, aquilo que pertence genuinamente ao homem e aquilo que são as suas construções mentais, separando e fundindo, cada uma delas.

Rodrigo de Castro, a partir da sua sensibilidade, revela-nos a possibilidade de habitar este início do século XXI, onde cada vez mais a evolução tecnológica parece querer afastar-nos uns dos outros e de nós próprios. À boleia dos seus universos pós-neoplásticos, o artista patenteia a capacidade de cada um de nós ser (ainda) surpreendido.

António Pedro Mendes
Marselha, 10 de Setembro de 2018